segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Bate papo sobre teatro


Adaptações de programas de TV para teatro vistas pelos seus diretores













Teatro infantil "importa" sucessos da TV

Dia das Crianças é deixa para estréia de ‘Sítio do Picapau Amarelo’ e ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, que se juntam a ‘Cocoricó’

"Hoje em dia, quanto menos risco você correr, melhor; quando você faz um espetáculo inédito, parte quase do zero", diz diretor de "Sítio"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Recado aos pais: não se espantem ao passar os olhos pelos títulos "Castelo Rá-Tim-Bum", "Sítio do Picapau Amarelo" e "Cocoricó" no roteiro de teatro infantil do Dia das Crianças. Vocês não foram parar acidentalmente na programação de TV; eles é que saíram de lá para os palcos paulistanos.
No próximo fim de semana, as turmas de Nino e Narizinho disputarão as atenções da garotada com Julio e sua trupe de bonecos (em cartaz desde 13/ 9). Diretores e produtores têm visões diferentes sobre essa abundância de montagens baseadas em grifes consagradas na televisão -só o "Sítio" está fora do ar atualmente.
Roberto Talma, diretor da peça decalcada das criações de Monteiro Lobato (e também da primeira fase do "remake" da série, em 2001), é taxativo:
"Hoje em dia, quanto menos risco você correr, melhor. Vamos supor que haja de 30 a 40 mil pais que levarão os filhos para assistir pelo fato de terem conhecimento [da história]. Digamos que gostem e espalhem. A gente então consegue fazer um movimento grande. É diferente quando você faz um espetáculo inédito e parte quase do zero. O universo de espectadores possíveis é muito pequeno. Tem de contar com a sorte."
Mira Haar, diretora e produtora de "Castelo Rá-Tim-Bum: Onde Está o Nino?", diverge. "É preciso correr riscos, sim, para se criar algo novo."
Mas trata-se aqui da remontagem de uma produção de 97.
"Eu trabalho por porcentagem de bilheteria. Estou correndo risco. Não vim aqui a negócio. Claro que [o risco] não é tão grande, porque as pessoas amam o "Castelo Rá-Tim-Bum", temos a garantia de que o programa está no coração delas. O desafio é não pasteurizar, diante de tanta tecnologia", avalia ela, que se valerá de efeitos visuais para encenar truques de mágica não vistos no seriado.

"Não é caça-níquel"
Fernando Gomes, autor, diretor e manipulador de bonecos de "Cocoricó, uma Aventura no Teatro", afirma que o projeto de levar os personagens ao teatro nasceu junto do programa de TV, em 1996:
"Nunca pensei: "Vamos fazer [no teatro] uma coisa de televisão porque isso terá mais público. Juro que tem muito de poesia, desse sonho de 12 anos. Definitivamente, não é um caça-níquel, até por que abri mão dos hits da série em favor de músicas que se inserissem no contexto do espetáculo."
Ele diz que a peça demorou a sair do papel pois, sempre que havia um produtor interessado, "as ideologias eram diferentes das minhas". "Queriam montar em teatro grande, com telão, ou botar atores fantasiados como os personagens [no programa, só há bonecos]. Eram propostas que me envergonhavam. Nunca quis enganar o público."
Problema parecido teve Haar ao tentar comprar os direitos de "Vila Sésamo" no ano passado. "Disseram que tinha de ser show. Isso eu não topo, porque só se ouve uma música e se vê um boneco "cabeção". Gosto é de fazer teatro."
Teatro que resulta fidelíssimo à matriz televisiva.

Mesmo intérprete
Em "Onde Está o Nino?" (sobre os efeitos de uma mágica do personagem-título no meio ambiente), a grande "importação" da TV foi justamente o intérprete original, Cássio Scapin -ok, há também Luciano Amaral, o Pedro do programa, que agora é assistente de direção.
O co-criador do seriado, Flávio de Souza, foi outro a fazer a transição -ele assina a dramaturgia. Idem para a trilha de André Abujamra, Arnaldo Antunes, Hélio Ziskind e outros.
No "Sítio" (costura dos livros "Reinações de Narizinho" e "O Picapau Amarelo" com pílulas biográficas de Lobato), além de Talma, a figurinista (Helena Araújo, da primeira versão da série, nos anos 70) pulou da telinha para o palco. Não é pouco o que os produtores prometem: cenário monumental, projeções 3-D, bonecos eletrônicos e vôos sobre a platéia.
É "Cocoricó" que parece mimetizar com mais exatidão seu "primo" televisivo: autor, equipe de manipuladores de bonecos e canções são os mesmos. Tudo para mostrar o alvoroço causado em Cocorilândia pela passagem de um OVNI.


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